
Seção Clínica
Isso que se diz vem da voz do analisando, impulsionado sob a promessa de que a questão endereçada àquele Outro sabido, pudesse receber de volta uma resposta arranjada com palavras na mais justa adequação às coisas, que bastaria; nada restaria. “Eu me pergunto o que queres, eu te pergunto o que sou” O psicanalista faz diferença. “Então é preciso clinicar”, diz Lacan. O que se passa do lado do analista? Segundo Porge, há um termo que marca a dessimetria entre a posição do analisando e a do analista na dimensão da clínica psicanalítica, é trancher, palavra de múltiplas acepções: fatiar, dividir, separar, decidir, tomar uma decisão, interromper uma conversa, cortar. Na prática “do que se diz”, que é propriamente o dispositivo analítico, o que determina a posição do analista, de seu ato, é que ele corta.
Na prática clínica do que se diz, no instante em que a palavra (do analisando) arde, o psicanalista corta antes que se diga que o sujeito já vai tarde. Se o analista encarna essa função de corte, é por ocupar um lugar na transferência e no discurso analítico – o psicanalista faz parte do conceito do inconsciente, uma vez que é a ele que se destina “o que se diz”. De modo que a razão primeira para situar o analista do lado do trancher vem, então, do seu colamento com o inconsciente.
Lemos ainda na “Abertura da Seção Clínica”: “Proponho que a Seção que se entitula da ‘clínica psicanalítica’ seja uma forma de indagar o psicanalista, de pressioná-lo a declarar suas razões”. Enuncia-se assim uma nova nuance para o termo seção, uma vez que a clínica psicanalítica acontece pelo advento de um corte, de uma secção pelo qual o psicanalista declara às claras as razões do ato que cometeu e que lhe acometeu. A seção clínica é onde a prática do psicanalista é posta em questão, lugar onde a razão que a fundamenta possa não só ser mostrada, mas também elaborada, em sessão compartilhada.
A Seção Clínica dentro da EPC é o lugar privilegiado para que tais questões relativas a essa prática possam se realizar. Questões estas que envolvem tanto os conceitos fundamentais, a metapsicologia, quanto o desejo do psicanalista.
O que pode um analista transmitir de sua prática a um público? A aposta é que a transmissão aconteça na medida em que a psicanálise em intensão se desdobre em psicanálise em extensão, a partir da articulação da clínica com os textos de Psicanálise. Articulação esta que se sustenta a partir do desejo do analista.
A seção clínica se dá num 2º tempo do acontecimento clínico, momento em que se inclui o 3º elemento. Cai o fato. Surge o caso clínico.
Nossos encontros para o ano de 2014 terão frequência mensal, sempre às terças-feiras, às 20h30, reservados aos membros da EPC. Teremos quatro Apresentações de Pacientes agendadas ao longo do ano, para as quais dedicaremos, pelo menos, o mesmo número de encontros na Seção Clínica.
Reiterando, Seção Clínica e Apresentação de Pacientes se enlaçam, mas não se confundem - a primeira não é toda na segunda. Restará uma reserva, uma agenda aberta à surpresa, um convite aos membros da EPC que queiram aventurar-se a testemunhar e “reglossar outravez” a questão da clínica do sujeito, enquanto véspera, assim colocada por Finnegans : “então o que poderia esse longe vidente parecer paracimesmo aparecer parecendo, resconda-me?
Resposta: um colidouescapo!”
Coordenadores
Deborah Steinberg
Luís Américo Valadão Queiroz

A Psicanálise, desde sua invenção por Freud, nunca se pretendeu, tão somente, ser um novo saber, desvinculado de sua experiência clínica.
Lacan inaugura a seção clínica em 5 de janeiro no ano de 1977 com a seguinte formulação: “O que é a clínica psicanalítica? Não é complicado. Ela tem uma base – é o que se diz em uma psicanálise”. Chega a desconsertar um enunciado de tamanha simplicidade e que, no entanto, procede, em proporção inversa, de uma condensação tamanha; de um longo percurso de síntese e redução. Estão aí embutidos nessa formulação uma teoria do sujeito (o significante como causa material do sujeito), e o papel que nessa teoria é exercido pela linguagem (o inconsciente estruturado pela linguagem; o inconsciente é o que se diz; o inconsciente no significante).
A Psicanálise, desde sua invenção por Freud, nunca se pretendeu, tão somente, ser um novo saber, desvinculado de sua experiência clínica.
Lacan inaugura a seção clínica em 5 de janeiro no ano de 1977 com a seguinte formulação: “O que é a clínica psicanalítica? Não é complicado. Ela tem uma base – é o que se diz em uma psicanálise”. Chega a desconsertar um enunciado de tamanha simplicidade e que, no entanto, procede, em proporção inversa, de uma condensação tamanha; de um longo percurso de síntese e redução. Estão aí embutidos nessa formulação uma teoria do sujeito (o significante como causa material do sujeito), e o papel que nessa teoria é exercido pela linguagem (o incons-ciente estruturado pela linguagem; o inconsciente é o que se diz; o inconsciente no significante).