
Grupo de Leitura
Lacan e Foucault: a questão da enunciação
Lacan e Foucault, como sabemos, respiraram os mesmos ares acadêmicos nas décadas de 50 e 60, o que inevitavelmente deixou vestígios em seu modo de pensar e agir.
Ao longo dos anos, Foucault foi convidado por Lacan para expressar seu pensamento em seminários de psicanálise. Estes e outros aspectos justificam a tentativa de aproximar os dois pensadores, apesar das diferenças e das críticas à psicanálise, que Foucault não esconde em seus textos.
Quando se fala em enunciação e enunciado, dentre outros conceitos, é impossível não retomar Foucault, principalmente em seu livro “A Arqueologia do Saber”. Foucault situa a enunciação naquilo que ele denomina formação discursiva ou simplesmente, discurso, que, como adverte Lacan (Seminário 18), é sempre semblante. Esse mesmo conceito é abordado por Lacan em seu Seminário Le Désir et son Interprétation. Mas, será que, na visão de Lacan, há algo que se aproxima da visão foucaultiana? Afinal, Lacan (1958-1959, p. 87), ao introduzir a distinção entre o processo da enunciação e o processo do enunciado, afirma que o primeiro se situa na dimensão do inconsciente.

Em seu sentido lingüístico, enunciação remete a enunciado (resultado do ato de enunciação) e este, a enunciar, o que, normalmente, para os dois autores, significa dizer(-se). Tanto Foucault quanto Lacan concordam que a enunciação pressupõe um sujeito (não racional, não previsível, não intencional, clivado, heterogêneo e incontrolável), sujeito da falta, vazio de sentido; neste aspecto, os dois pensadores se aproximam: o sujeito da enunciação é o lugar do devir, de onde o sujeito irrompe, segundo Lacan.
De acordo com Foucault, o sujeito é consequência da história e da cultura e, por isso, a noção de acontecimento que revela o encontro da atualidade com a história (ou a cultura) na constituição do sujeito e do dizer (que é sempre dizer-se) não está descartado no pensamento de Lacan. O sujeito não-substanciado tem um corpo imaginário substanciado na e pela historicidade. Pelo exposto, é possível afirmar que qualquer enunciado diz mais – ou outra coisa - do que se tem a intenção de dizer, isto é, trata-se do (não) dito. Assim, o tema aqui proposto atravessa outros conceitos, como cultura, história, linguagem, sujeito, subjetividade, interpretação, o que interessa a psicanalistas, na clínica ou em formação.
Bibliografia inicial e básica:
Foucault, Michel (1969) A Arqueologia do Saber, Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Forense Universitária, 2004.
Lacan, Jacques (1958-1959) Le Désir et son Interprétation. Editions de l’Association lacanienne internationale (hors commerce), 2010.
Coordenação - Maria José Coracini
Hora - terças-feiras – 10h30 às 12h00 (mensal)
Início - 18 de março/2014
Local - Escola de Psicanálise de Campinas
Valor - 80,00
Membros da EPC - Isentos